As guerras e o Grande Filtro
'Temos meios mais do que suficientes de acabar com nossa espécie', escreve o colunista Eduardo Guimarães ao comentar sobre guerras na Europa e no Oriente Médio
O paradoxo de Fermi deriva da frase de Enrico Fermi, físico italiano naturalizado estadunidense. Destacou-se pelo seu trabalho sobre a teoria quântica, física nuclear e de partículas. Fermi recebeu o Nobel de Física de 1938.
Certa vez, em uma roda de amigos, perguntou "Onde está todo mundo?". Referiu-se ao fato de que a humanidade já deveria ter detectado sinal de vida extraterrestre e isso jamais ocorrera -- e continua não ocorrendo muitas décadas depois.
Paradoxo de Fermi, pois, é a contradição entre as hipoteticamente altas probabilidades de existência de civilizações extraterrestres e a falta de contato com tais civilizações. A idade do universo e seu vasto número de estrelas sugerem que a vida extraterrestre deveria ser comum, mas nunca surgiu um mísero sinal de rádio, nada, absolutamente nada.
Há várias teorias explicativas para essa falta de contato, mas uma delas parece até mais provável do que as outras. Trata-se da Teoria do Grande Filtro.
É uma teoria triste, desenvolvida pelo pesquisador Robin Hanson, que desenvolveu algumas "explicações" para o Paradoxo de Fermi. Em 1996, Hanson escreveu artigo intitulado “The Great Filter – Are We Almost Past It?” (‘O Grande Filtro – Estamos Quase Passando-o?’).
O Grande Filtro tenta explicar a falta de alienígenas. Esse filtro impediria uma civilização de se desenvolver a partir de determinado ponto, que poderia variar de civilização para civilização. Mas o que une a todas é o fato de que todas entram em extinção, cedo ou tarde, como ocorreu com os dinossauros.
Aliás, é bom lembrar de que a Terra já viveu CINCO extinções da vida desde 440 milhões de anos atrás, em um planeta que tem 5 bilhões de anos. A vida humana nesta bola de lama azul-perolada, diferente de tudo o mais que já se viu no universo, tem uns míseros 200 mil anos, de forma que é extremamente cedo para nos gabarmos.
O Grande Filtro, segundo Hanson, já "limou" cinco vezes a vida na Terra e sem acabar com as condições para que ela renasça uma, duas, três, quatro e cinco vezes.
Assim sendo, o Universo conhecido e observável não teria nenhuma civilização tecnológica porque o Grande Filtro seria uma Lei da Natureza, que é a mesmas em toda parte -- até onde sabemos.
Na Terra, as cinco extinções se deveram à Natureza. Era Glacial, variações atmosféricas que enveneram o ar, terremotos devido aos choques tectônicos e os vulcões por eles gerados e, finalmente, o impacto de um asteroide com o planeta.
A má notícia vem agora. A Ciência moderna cogita que estamos em pleno sexto processo de extinção. De novo, o Grande Filtro começa a agir. Seria a Extinção do Holoceno ou do Antropoceno e estaria decorrendo, pela primeira vez NESTE planeta, por obra da espécie dominante -- nós.
E estamos conduzindo essa autoextinção envenenando o planeta ou nos matando uns aos outros em uma praga que em centenas de milhares de anos não conseguimos controlar. Nossa belicosa espécie se mata há séculos incontáveis.
Até um certo ponto, a possibilidade de exterminar a vida na Terra guerreando uns contra os outros era pequena. As guerras até tinham o condão de reduzir a superpopulação e permitir que a humanidade avançasse até conseguir produzir alimentos para todos. Porém, tudo isso mudaria há 78 anos cravados.
"Às 2h27 da madrugada do dia 6 de agosto, o coronel Paul Tibbets aciona os motores da superfortaleza B-29, batizada por ele de Enola Gay, nome de solteira de sua mãe. O alvo era Hiroshima, cidade japonesa de 256 mil habitantes. Às 8h15 de 6 de agosto de 1945, a bomba denominada Little Boy, com 72 quilos de urânio 235, foi lançada sobre a cidade, a mais de 10 mil metros de altura. Demorou 43 segundos até explodir"
O trecho acima foi publicado no site da Assembleia Legislativa de São Paulo no aniversário de 65 anos da bomba de Hiroshima (2010).
De 1945 para cá, portanto, a humanidade se aproximou de mais um evento do Grande Filtro, que, segundo o pesquisador Robin Hanson, impede que as civilizações perdurem no Universo conhecido e observável.
Sobretudo agora, que temos meios mais do que suficientes de acabar com a nossa própria espécie e com todas as outras.
Atualmente, duas guerras cruéis se desenrolam diante do olhar estupefato da humanidade. Na Europa, civis inocentes são trucidades no conflito russo-ucraniano; no Oriente médio, outros tantos são trucidados no conflito israelo-palestino. E os dois conflitos ameaçam incendiar o mundo.
Pode não ser desta vez, pode ser na próxima, mas se não começarmos a repudiar e conter de forma eficiente o discurso que "justifica" as guerras, daqui a uns 200 mil anos a Terra poderá ter se tornado, talvez, um Planeta dos Macacos.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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